Soluções Extraordinárias de Patentes

CLARA LÓPEZ TOLEDO CORRÊA
Advogada da Toledo Corrêa Marcas e Patentes

Soluções Extraordinárias de Patentes“Solução extraordinária”?! É isso que o governo vem a propor para que a fila de espera na análise de patentes perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) diminua.

Importante salientar que essa fila de espera já diminuiu consideravelmente se compararmos com o nosso passado, mas o mesmo não podemos afirmar a respeito de outros países (EUA, Europa em geral e Japão), naturalmente. Em relação a nossa realidade, a fila de espera chegou a cair quase que pela metade – muitas patentes eram definitivamente concedidas pouco antes de “expirarem” (ou cair em domínio público, termo correto).

Antes, uma patente de invenção, que tem uma validade de 20 anos, demorava até 17 anos para ser concedida, hoje, pode levar até 11, mas confesso que já vivenciei concessões mais rápidas. Nesse ínterim, ainda se discutia se a validade seria contada a partir da data da concessão ou do depósito de pedido de patente (assim, a proteção poderia se estender os 17 anos, por exemplo, do processo administrativo e mais 20 anos) – por uma questão lógica, mercadológica, social, econômica e sensata a data considerada para a contagem se tornou indiscutível: data do depósito e ponto.

Essa medida – política – soa muito bem aos ouvidos de muitos empresários (principalmente, pois aqui não vejo nenhuma ou quase nenhuma importância dada ao “pequeno inventor”) e grandes indústrias que teriam o título de suas patentes o mais breve possível – o que não significa que nesse meio tempo de depósito e concessão se deixe de lucrar, embora, muitos vendam essa solução como o grande remédio para a competitividade para o combate à pirataria.

Do ponto de vista prático, então, o processo administrativo de análise de patentes seria mais ameno, já que muitos consideram que o INPI tem uma “cautela exacerbada” – se com esse tipo de cautela, regulamentações e manuais cada dia mais atualizados e esmiuçados vemos alguns pedidos espantosos, imagina como será sem esse rigor?! Assim, cabem outras indagações, a menor cautela não abriria espaço para mais pedidos de registros de patentes descabidos? A fila de espera realmente diminuiria?

Mas, ótimo, essa medida paliativa aceleraria a economia! É o que precisamos para o momento! Ah, paliativa, sim! Pois não se fala em “solução final”, apenas “extraordinária”. Não obstante, se por um lado, essa formidável solução descongestionaria a fila no trâmite administrativo, entupiria o Poder Judiciário, uma vez que a demanda nesse âmbito aumentaria para suprir os possíveis défices ocorridos nos processos administrativos perante o INPI.

Observando tal lógica, portanto, o tiro sairia pela culatra, pois a princípio, o governo buscou, também essa alternativa para não ter que gastar cerca de 1 bilhão com novos examinadores…Mas, teria que pensar em uma outra solução ou até investir mais em um Judiciário que vive atolado por mais inúmeras razões (calamitosas).  Assim, não se “gasta” agora, mas se “gasta” depois – isso não me parece uma economia muito inteligente e como cidadã, diante de todo o cenário que vem se estendendo, me sinto feita de boba. O que é 1 bilhão diante de 16 bilhões e outros números maiores?!

Sei que não é simples assim, da mesma forma que a “solução extraordinária” não deve ser. É um desabafo, peço perdão.

Contudo, a possível má sorte que parte dessa “solução extraordinária” nos evidencia um aspecto muito positivo, a cultura de propriedade industrial vem crescendo no país, o que é um passo para sua desmistificação, mas significa muito mais! Significa a alta da inovação no Brasil e a circulação da riqueza gerada por ela, que deve ser aproveitada por todos, mesmo assim, nossos passos são tímidos e devem, ainda, ser bem calculados – o que parece carecer essa “solução extraordinária”.

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